Durante depoimento concedido a
pedido de sua própria defesa na 7ª Vara Federal Criminal, o ex-governador
Sérgio Cabral disse nesta sexta-feira (4) que negociou a “compra” do apoio de
Crivella para Eduardo Paes na eleição da prefeitura do Rio de 2008 por US$ 1,5
milhão. N ocasião, Paes foi ao segundo turno com Fernando Gabeira e Crivella
foi o terceiro colocado. Paes, segundo Cabral, foi buscar o dinheiro na casa do
empresário Eike Batista, ao lado do próprio Cabral e de Crivella.
Cabral disse ao
juiz Marcelo Bretas que foi procurado pelo próprio Crivella na campanha para o
segundo turno das eleições.
“Ele [Crivella] me
liga e pede uma conversa no Palácio das Laranjeiras em 2008. Recebo à
tarde/noite e ele me diz o seguinte: ‘Olha, estou sendo pressionado a apoiar o
deputado Gabeira. Não é do meu agrado pelas minhas convicções religiosas, visão
do mundo. Mas o Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central], que estava
muito exposto na campanha do Gabeira aparecendo na televisão pedindo voto, me
ofereceu 1 milhão de dólares. E, então, eu vou apoiar o Gabeira se vocês não
fizerem nada’. Eu e ele, sem testemunha. Eu falei: ‘Você me dá um tempo’”.
O tempo, segundo o
ex-governador, foi pra pedir dinheiro ao empresário Eike Batista. “Eu falei
[para o Crivella]
: 1 milhão e meio de dólares, você aceita? Ele falou: aceito”,
contou Cabral, antes de relatar o suposto pedido ao empresário.
“Eu preciso de um
milhão e meio de dólares para dar ao Crivella, e tem que ser amanhã, porque o
segundo turno já estava correndo. Aí ele falou: ‘Tudo bem, não tem nenhum
problema, só que tem que ser muito cedo porque eu vou sair as 8 horas da manhã
com esse grupão todo para o Açu. Tudo bem, então 6 e meia da manhã na sua
casa’. Aí marquei com o Eduardo Paes na minha casa às 6h, contei para ele a
situação toda”, acrescentou.
Fernando Gabeira
disse que duvida que Crivella tenha dito isso para Sérgio Cabral e que ignora
qualquer negociação sobre apoio à sua candidatura à Prefeitura do Rio. “Ignoro
esse fato, inclusive nunca vi tanto dinheiro na minha vida. Quem garante que o
fato ocorreu? Eu duvido que tenha acontecido, porque nunca tivemos 1 milhão de
dólares para a nossa campanha”. Ainda segundo Gabeira, Armínio Fraga nunca
faria esse tipo de contato – oferecer R$ 1 milhão de dólares pelo apoio de
Cabral – sem consultá-lo, e nunca houve essa conversa entre eles.
Armínio Fraga disse
que as informações de Cabral são mentirosas e não procedem.
Fernando Martins,
advogado de Eike Batista, informou que Eike Batista não é parte no processo e
que sempre desenvolveu suas atividades empresariais dentro do marco da
legalidade.
Em post no
Facebook, Crivella chamou de “grande mentira” o relato de Cabral. “Amigos,
fiquei sabendo há pouco que o ex-governador Cabral disse que há 10 anos teria
comprado meu apoio ao Eduardo Paes. Mais uma grande mentira plantada para
tentar desestruturar a minha gestão e minhas convicções como homem público.
Jamais conseguirão manchar a minha honra”, disse. Segundo Crivella, o apoio
para Eduardo Paes aconteceu porque Paes era o candidato mais alinhado com os
evangélicos.
NEGATIVAS
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), classificou a acusação feita por Sérgio Cabral como “mais uma grande mentira plantada para tentar desestruturar a minha gestão e minhas convicções como homem público”. E completou: “Jamais conseguirão manchar a minha honra”. Crivella se manifestou por meio de um vídeo que postou no Facebook. “Isso é mentira. Eu não conheço o senhor Arminio Fraga, nunca estive com ele nem tampouco ele me ofereceu qualquer recurso, e a minha opção por Eduardo Paes se deu porque era o candidato que tinha afinidade com os evangélicos. Todos os evangélicos apoiaram Eduardo Paes em sua primeira candidatura (a prefeito do Rio)”.
O advogado Alberto Zacharias Toron, que representa o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou que o parlamentar “desconhece qualquer pedido de apoio feito pelo ex-governador para a campanha presidencial do PSDB em 2014”. Afirmou ainda que “todas as doações realizadas àquela campanha estão devidamente declaradas e foram aprovadas pela Justiça Eleitoral”.
O ex-deputado estadual Jorge Picciani (MDB) afirmou, por meio do seu advogado, que só vai se manifestar depois de ter acesso formal à íntegra do depoimento de Cabral.
Em nota, a Fetranspor afirmou que “desde setembro de 2017 é presidida por um novo executivo, sem qualquer ligação com a gestão passada e com os fatos relacionados às investigações em andamento”, que “adotou uma política rígida de compliance e de governança” e que “vem cumprindo todas as determinações judiciais”.
A reportagem também procurou o ex-prefeito Eduardo Paes, o economista Armínio Fraga e o empresário Eike Batista, por telefone e e-mail mas não obteve resposta até a conclusão desta edição. 00000