BR: Com apenas três meses de governo, não é natural o que o noticiário político já exibe: candidatos em profusão à sucessão de Jair Bolsonaro. O normal seria que as notícias mostrassem planos e realizações do presidente que acabou de tomar posse, mas à exceção da reforma da Previdência, tudo o que se são tropeços no protocolo, erros de comunicação, muita briga interna e falta de foco sobre o que de fato é importante para o país. Nessa confusão, os políticos já se apresentam como alternativa para a eleição de 2022, o que faz o noticiário ganhar outros polos de importância, quando poderia estar concentrado apenas no atual presidente.
O governador de São Paulo, João Doria, é que mais vai ocupando o espaço aberto pelos erros políticos de Bolsonaro. Na oposição de um presidente falastrão, Doria se mostra um governador que não cria problemas para si mesmo, e diz presente a situações que exigem sua presença. Foi assim durante as enchentes que tornaram a Grande São Paulo um caos, no começo da semana, e diante do massacre de Suzano, quando, assim que soubesse, Doria foi até a escola alvo da tragédia prestar sua solidariedade às famílias das vítimas. De quebra, no dia seguinte aos ataques, anunciou indenização de R$ 100 mil para cada família vitimada, ganhando para si a marca de benemérito.
Ao lado de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão foi o primeiro a falar em 2022, ao dizer que, se as coisas forem bem para o governo, ele gostaria de outra vez estar na chapa de Bolsonaro. No entanto, para não ficar com um cavalo só, Mourão vai almoçar com Doria, na próxima segunda-feira, na qualidade de presidente interino, quando Bolsonaro estará nos Estados Unidos. Impossível que ambos, próximos desde a campanha de 2018, não falem, é claro, de 2022.
No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel, que venceu com um discurso que resvalou pela extrema-direita, já trata de adotar uma postura moderada. Na eleição, ele participou do ato que rasgou uma placa de papelão com o nome de Marielle Franco, mas diante da prisão dos prováveis assassinos dela, pediu desculpas à família pelo gesto anterior. Um movimento diretamente interessado em ampliar sua própria base de apoio. A confusão política do governo fez voltar, com força, o ferino Ciro Gomes, ex-candidato a presidente pelo PDT. A respeito dos seguidos tuítes de Bolsonaro, Ciro saiu-se com uma das suas: “Elegeram um garoto de 13 anos, tuiteiro”, resumiu. Dois dias depois da frase, o presidente do PDT, Carlos Lupi, não perdeu a chance: afirmou que Ciro será novamente candidato a presidente pela legenda. Em 2022, o ano que já começou.